Desenvolvimento Humano

25 de Maio, 2018

O FANTASMA

Álvaro, entrou casa adentro, muito transtornado, desabando em lágrimas e seguiu para o quarto dele. Ouvi o bater da porta.

Eu estava lendo, fiquei assustado, meio sem saber o que fazer. Deixei passar algum tempo, para que ele pudesse se recompor. Bati na porta dele com cuidado e, com o consentimento, entrei.

Álvaro, o que aconteceu?

Pai, o diretor da escola, fez uma reunião geral, com todos nós, formandos do ensino médio, para dizer que agora estávamos encrencados, porque a realidade nos afrontaria já no dia seguinte à nossa formatura. Disse que o mundo é cruel, que seríamos perseguidos pela cobrança do sucesso e que, a partir desse momento, seria cada um por si. Eu e meus colegas sentimos como se fosse uma bofetada em nossas caras.

Álvaro, sinto que você está muito chateado com tudo isso.

Sim, ele não nos disse qualquer palavra de incentivo…

Como eu posso te ajudar?

Pai, você pode sim. Com sua experiência de vida, poderá me indicar uma saída para esse tormento. Vou te dizer o que estou pensando agora. Quando terminei o fundamental I, diziam que o fundamental ll seria um momento muito legal em minha vida. Terminando o fundamental ll, me disseram que o ensino médio seria maravilho e realmente foi. Agora, ao final do curso, me dão um banho de água fria desse jeito. Não é justo.

Álvaro, respire fundo e tente se acalmar mais um pouco. Daqui a uns 15 minutos voltarei para te contar uma história.

Está bom pai, vou tentar relaxar.

Retornei ao quarto dele, iniciando a conversa com a história de uma família muito pobre, com seis filhos, aqui da região. O primogênito, Natanael, já grandinho, percebeu a dureza da condição de vida deles, com o trabalho duro dos pais, para colocar comida na mesa. Natanael era muito curioso e interessado e queria conhecer mais sobre a vida, além de ser muito alegre. Como já sabia ler, não deixava passar as oportunidades. Tudo que caia nas mãos dele ele lia. Pedia livros emprestados e lia na pequena biblioteca da cidade. O sonho dele era ser advogado. Havia terminado o ensino médio e queria prestar o vestibular, em uma faculdade pública, na capital. Conversando com os pais dele, resolveram então, pedir um dinheiro emprestado a um familiar, mais abastado. Felizes por terem conseguido, lá foi Natanael para a cidade grande, morar em uma pensão.

Ele estudava 8 horas por dia, demonstrando muito esforço e comprometimento para atingir o objetivo, por ele traçado. O Sr. Edward, dono da pensão, vendo tudo aquilo o chamou para uma conversa, dizendo – Olha rapaz, eu fico feliz de ver um jovem como você, tão empenhado. Depois de conhecer a sua história, eu decidi bancar sua estadia aqui, até sua formatura na faculdade. Não se preocupe, nada irá te faltar. Dedique-se apenas aos estudos.

Morrendo de felicidade, agradeceu muito ao Sr. Edward, pela grande benção que havia recebido.

Terminado a faculdade, ele pôde retornar à sua cidade natal e comemorar com os pais, irmãos e outros familiares. Antes de sua partida, disse aos pais que aguardassem por sua ajuda financeira.

No seu retorno, conseguiu um estágio no escritório do Dr. Gilberto Krauss, um advogado muito famoso à época. Muito feliz e sem perder a alegria, foi contratado após o término do estágio. Ele se mostrava um brilhante advogado e tinha todo o apoio do Dr. Gilberto. Por diversas vezes foi preterido por clientes, por ser negro. Diziam isso diretamente a ele ou até junto do Dr. Gilberto, que continuava a apoiá-lo. Natanael não se abatia, continuava a trabalhar com alegria, produzindo peças de defesa, excelentes, para júbilo do Dr. Gilberto.

Álvaro jamais perdeu seu foco e com muito estudo tornou-se juiz.

Um dos clientes do Dr. Gilberto, que em épocas passadas o havia preterido, seria julgado, na corte por ele presidida. O caso era complicado, porque tratava-se de um caso de partilha de bens em que um irmão havia acusado o réu de falsificação da assinatura do pai deles, quando da divisão da herança. Após ter estudado profundamente os autos do processo, o Dr. Natanael apresentou-se na corte para o julgamento. O réu o reconheceu imediatamente, mostrando-se constrangido. O julgamento foi conduzido com maestria pelo Magistrado. Lido o resultado do julgamento, favorável ao réu, eles apenas se olharam fixamente e cada um seguiu o seu caminho.

Nossa, pai, que homem de fibra esse Dr. Natanael. Obrigado, muito obrigado. Agora irei dormir e amanhã será outro dia.

No café da manhã, percebi o entusiasmo do Ávaro, que me disse – Pai, agora eu sei como agir, confie em mim.

Saindo de casa, Ávaro reuniu 10 colegas de classe, fez uma pequena reunião com eles e foram falar com o diretor da escola. O diretor, assustado com o grupo de alunos, os recebeu. Ironicamente e sorrindo foi dizendo – Estão com medo do fantasma que eu criei para vocês? Álvaro o interrompeu. Sr. Diretor, vimos demonstrar a nossa gratidão, por nos ter alertado sobre os problemas que iremos enfrentar. Estamos todos prontos para lutar muito, mas não contra esse fantasma não. Hoje sabemos como enfrentar a vida. Lutaremos contra as adversidades e seremos Médicos, Advogados, Engenheiros, Professores e transformaremos o mundo, fazendo a nossa parte.

O que estamos vivendo hoje, é apenas o início de nossas carreiras!

Seremos verdadeiros cidadãos.

 

 

por Fausto Ferreira