Desenvolvimento Humano

20 de novembro, 2019

A MORTE DE JAIRO

Onde estou?

O que aconteceu comigo?

Calma, você está bem. Meu nome é Clemente e estou cuidando de você.

Esse lugar é estranho, parece um hospital…

Pois é Jairo, é mesmo um hospital, só que espiritual.

Como assim, então eu morri?

Sim, na linguagem dos humanos, você morreu. Para nós, foi só a morte de seu corpo. Seu espírito continua existindo.

Nossa, estou meio atordoado, mas é igual ao que aprendemos lá no Centro Espírita que eu frequentava.

E a minha família, Emília minha esposa e Ronaldo, meu filho entrando na faculdade.

Mantenha a calma. Eles estão bem.

Faz três meses que você está aqui em recuperação.

Vou contar o que aconteceu: Você estava viajando e um caminhão atravessou a estrada, não deu para você desviar e houve uma colisão frontal com o seu carro.

Sim, agora me lembro, foi isso mesmo.

Você não resistiu e fez sua passagem.

Caramba, isso aconteceu muito cedo. Estou apenas com 40 anos, tinha tanta coisa para eu fazer na vida e agora?

Você poderá fazer muita coisa aqui no plano espiritual também, não se preocupe.

Eu estou falando da vida na terra, onde deixei tanta coisa para fazer. Eu tinha uma boa vida, mas era uma vida sem muito sentido. Eu ia vivendo, meio ao sabor do vento e, tomar contato com isso está me torturando.

Emília entrou no quarto e foi falando alto – Jairo, Jairo… acorda homem!

Jairo deu um pulo da cama e gritou – O que aconteceu?

Nada, você estava dormindo tão pesado e nem ouviu o despertador…

Emília do céu! Eu sonhei que havia morrido em um acidente…

Vira essa boca para lá. Você está vivinho e vai logo, que o trabalho te espera.

Jairo se arrumou, pegou o carro e se pôs a caminho do trabalho. Ao chegar, cumprimentou todo mundo, como era de costume e foi para sua sala. Não conseguia se concentrar, porque o sonho o atormentava. Foi até a sala do Cláudio, que além de seu diretor era seu amigo de infância. Queria conversar, para se acalmar.

O que aconteceu Jairo? Você está pálido!

Preciso conversar com você. Estou transtornado com um sonho que tive.

Claro, senta aí e me conta.

Após ouvir toda a história, Cláudio disse – Meu amigo, eu não sou psicólogo, mas posso ir direto ao ponto. O que está te atormentando, não é ter sonhado que havia morrido, mas ter tomado consciência do tipo de vida que você tem. Acho que você pode repensar a vida e fazer uma grande mudança, caso queira. Leia a última entrevista do filósofo Luc Ferry, no Fronteiras do Pensamento, que irá te ajudar muito.

Ei Cláudio, como sempre, você tem razão meu amigo, é isso mesmo. Vou considerar suas palavras, muito obrigado.

Jairo saiu mais cedo do trabalho e resolveu caminhar pelo jardim central da cidade, para espairecer. Apreciava a beleza das flores e das árvores, principalmente os flamboyants, com suas cores vivas. Nesse momento, percebeu que estava na primavera e que era mesmo época das floradas. Na verdade, ele não valorizava tantas coisas na vida e muito menos as plantas e flores.

Saindo do parque em direção à sua casa, começou a perceber as diferentes arquiteturas das casas e prédios, os diferentes barulhos dos carros, das crianças brincando, dos cachorros, enfim de tudo o que o rodeava. Sentia-se alegre e feliz como nunca.

Ao chegar em casa, foi em direção à Emília e lhe abraçou forte. Ela se espantou e não disse qualquer palavra, apenas retribuiu o abraço.

Emília, disse Jairo – Para mim este é um grande recomeço. Decidi que para ser feliz, a vida precisa ter um sentido. Eu perdi muito tempo apenas vivendo, sem ter consciência de cada ação minha. Claro que isso envolve você e o Ronaldo. Nesse caso, penso que a vida precisa ter um sentido para cada um de nós. Caso contrário estamos vivendo como uma manada de Gnus.

Passados seis meses, Jairo era outro homem. Demonstrava estar feliz, de bem com a vida, com a família, amigos e colegas de trabalho. Seu otimismo agradava a todos.

Conversando com Emília, em um final de tarde ele disse sem titubear – A vida plena que eu quero, não é aquela cheia de coisas, que posso comprar. É ter uma dimensão clara do significado do que estou fazendo aqui, para mim e para os outros, vocês incluídos.

Como diz o filósofo Luc Ferry, que por sinal estará no Brasil a pouco, o sentido da vida fica prejudicado, porque insistimos em focar no passado, que já foi e no futuro, que ainda não é, esquecendo-nos do presente. E, no presente, a única coisa que dá sentido à vida é o amor.

Ele declara – “ A vida boa é uma vida de amor. Isso é uma evidência constantemente presente em nossa vida privada e, mesmo assim, quase não ousamos tocar nesse assunto fora da intimidade.
Hoje em dia, é o amor que dá sentido à nossa vida, é com relação ao amor que definimos o que é uma “vida boa”. Todo mundo sabe disso. Mas, o que nem todos sentem é que esse poder dos sentimentos nem sempre foi a regra.”

Meu querido, disse Emília – Quero dizer apenas que agradeço por você existir e compartilhar a vida comigo.

por Fausto Ferreira